sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Henê

Eu era pele e osso.
Era negro branco.
História viva, uma revolução.

Eu era o mundo todo.
Era pobre burro.
Fraco oprimido, subordinação.

Eu era religioso.
Era macumbeiro.
Um pai de terreiro, mística feição.

Eu era dinheiro vivo.
Era braço forte.
Lá o dia inteiro, uma alisada um corte.

Eu deixei de ser preto,
Virei moreninho.
Me pintaram de bege na segregação.

Eu já era grito.
Era desespero.
Livre aprisionado dentro de um camburão.
                                                                                                                             Fábio Pinheiro.